7º ano

A Peste Negra na Idade Média - Documentário History Channel Brasil

TEXTO: DIÁRIO DE LEONARDO - 72


DIÁRIO DE LEONARDO- 72

“Estamos No ano de 1835. Nasci há somente doze anos, mas já vi a morte de perto. O mal propaga-se melhor nos amontoados de pardieiros insalubres. Um mal cego. Estava acostumado a vê-lo matar as crianças, os pobres. Eis que ele ataca adultos jovens, em pleno vigor, e até mesmo os ricos. A doença começa com o aparecimento de tumores, do tamanho de lentilhas, no pescoço do infeliz; outros sintomas se desenvolvem em poucas horas, como dor de cabeça, frio, respiração acelerada, febre alta. Novos tumores aparecem embaixo do braço e da virilha. A morte chega em três ou quatro dias. Penso que não sobrará ninguém para contar o que aconteceu, ninguém saberá explicar, no futuro, o que ocorreu à população europeia. Através de corajosos comerciantes que ousaram continuar suas atividades, fiquei sabendo que, em aglomerados com Paris e Londres, quatro, cinco milhões de almas foram levadas em poucos meses, no verão. Os sobreviventes, estarrecidos, após semanas de medo, partilharam as heranças, casaram-se rapidamente, tentaram procriar, mas a peste logo levava os recém-nascidos.
Cheguei a pensar em mudar-me da Sicília, ir para algum lugar onde a peste não me achasse, mas não havia mais saída, passaria por locais igualmente castigados. O medo tomou conta de mim. Passei a pensar que tal flagelo fora mandado por Deus para nos castigar. É a cólera divina, é o que dizem os padres, mas como explicar a morte também entre os clérigos?
Levava em meu coração, além do medo, uma enorme tristeza: vi de perto a morte de meu cachorro, de meu amigo e vizinho, e de toda a sua família. Amedronta-me pensar que não tenham alcançado o Reino dos Céus, pois, apesar dos meus insistentes pedidos, o padre recusou-se a ouvir suas confissões e dar-lhes o último sacramento; temia o contágio. Vi casas sendo fechadas, cadáveres abandonados em seus lares e nenhum pai, nenhum filho, nenhum padre ousava adentrar a casa.
Preocupava-me com meus pais que não conheceriam seus netos, já que sou filho único. Decidi preservar nossas vidas. Decidi procurar quem menos era atingido pela peste: os judeus. É claro que isto representava perigo, pois não eram cristãos. Chegaram a acusa-los pela epidemia, mas eu estava disposto a tudo.
Numa noite escura, caminhei em direção ao bairro judeu. Fui diretamente à casa de um conhecido, que já havia emprestado dinheiro ao meu pai há alguns meses. Uma mulher, com expressão desconfiada, abriu uma fresta da porta, reconheceu-me, olhou-me atentamente para conferir se eu não apresentava nenhum sinal aparente da horrível doença e só então deixou-me entrar. Pedi que chamasse Jacó, seu marido. Ele apareceu e, imediatamente, comecei a contar-lhe meus temores, a pedir-lhe ajuda, a rogar-lhe que me ensinasse o que deveria fazer para não ser castigado com a maldição da peste.”
           
            Meu nome é Ângelo, achei este manuscrito no fundo de uma velha caixa de madeira, que eu estava esvaziando a fim de poder usá-la para guardar as moedas que pretendo ganhar, trabalhando para o mestre Piazza, em Nápoles, já que fui admitido como aprendiz em sua oficina. Percebi que a pessoa escreveu o relato quando tinha a mesma idade que tenho hoje, por isso me interessei. Só foi possível ler a primeira página, porque as outras foram danificadas. Mas não é preciso ser muito esperto para adivinhar o fim da história, porque a caixa pertenceu ao meu avô, Leonardo, que morreu aos quarenta anos, depois de ter criado seus oito filhos, sendo que sou o filho mais novo de seu filho mais novo.

                                                           ((Cleuza Villas Boas)

PERGUNTAS: DIÁRIO DE LEONARDO - 72


PERGUNTAS SOBRE O TEXTO: DIÁRIO DE LEONARDO- 72
1.       Encontre sinônimos para as palavras destacadas:
a)      A doença começa com o aparecimento de TUMORES.
b)      Passei a pensar que tal FLAGELO fora mandado por Deus.
c)       É a CÓLERA de Deus.
d)      ... mas como explicar a morte também entre os CLÉRIGOS?
e)      ... e dar-lhes o ÚLTIMO SACRAMENTO.
2.       Qual é o parentesco entre Leonardo e Ângelo?
3.       Onde se passa esta história?
4.       Em qual época, Leonardo escreveu sua história?
5.       Em qual época?
6.        Ângelo nos conta a respeito desse diário?
7.       Leonardo e Ângelo viveram no final da Idade Média. A partir das informações do texto percebemos que Leonardo sofreu com a peste e Ângelo terá de abandonar sua família para viver sozinho em Nápoles. Os adolescentes de hoje em dia têm medo do quê?
8.       Como Leonardo descreve a peste que amedronta a população europeia?
9.       Por que Leonardo disse estar acostumado a ver a peste matar a população mais pobre?
10.   Num primeiro momento, Leonardo considera fugir. Por que desiste?
11.   Por que Leonardo viu no judeu sua última esperança de salvação?
12.   Reconte a história com suas palavras.

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