MACUNAÍMA
Segundo os índios Caraíbas e várias tribos da Venezuela, no princípio do mundo existiu uma divindade poderosa, Macunaíma, criador das plantas, dos animais e até do próprio homem. Entretanto ao lado dessa divindade dos tempos da criação, há outro Macunaíma. Trata-se de um ser humano: um índio, com grandes poderes mágicos. Suas aventuras ocupam a imaginação de nossos índios e caboclos. É um herói popular.
A partir de lendas populares, o escritor Mário de Andrade, reinventou o índio Macunaíma, em seu livro “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter” Nesse livro o herói é transformado num anti-herói, ao mesmo tempo bom e mau, sentimental e insensível, operoso e preguiçoso, ético e safado, alegre e triste. Índio, preto e branco. É o brasileiro.
O escritor conta que Macunaíma não falava até os seis anos de idade, por pura preguiça. Gostava de ficar no ócio, numa rede ou brincando com as índias, enquanto seus irmãos, Maanape e Jiguê, iam procurar alimentos. Um dia, saindo para dar uma voltinha, atravessou o reino encantado da Pedra Bonita e viu uma veada que tinha dado à luz recentemente. Contrariando uma lei dos povos da floresta que proíbe caçar animais grávidos ou que tenham dado à luz recentemente, ele segurou o filhote, fazendo com que a veada se aproximasse, desesperada. Então, deu-lhe uma flechada e ela morreu. Contudo, quando chegou perto da caça, ela tinha sido transformada em sua própria mãe. Diante da desgraça, o herói pôs-se a chorar e, depois de enterrar a mãe, partiu com seus irmãos por esse mundo.
Nas suas andanças encontrou Ci, com quem teve um filho que logo morreu. No lugar em que o menino foi enterrado, nasceu uma planta, o guaraná. Ci, a triste mãe, resolveu ir para o céu, transformando-se numa estrela. Antes, deu a Macunaíma um talismã, uma pedra mágica ou muiraquitã. Mais triste que antes, o herói e seus irmãos seguiram caminho para viver muitas aventuras e mais uma desventura: a perda do talismã. Com a ajuda do Negrinho do Pastoreio, o herói descobriu que o talismã estava com um gigante, Piaimã, que morava em São Paulo com o nome de Venceslau Pietro Pietra. Dirigiram-se então, para essa cidade, onde foram morar numa pequena pensão e onde conviveram com o progresso.
Em São Paulo, na primeira tentativa de encontrar a pedra mágica, Macunaíma foi morto pelo gigante, mas acabou ressuscitando, magicamente. Depois de muitos obstáculos, venceu o gigante, jogando-o num caldeirão de macarronada. Uma vez recuperada a pedra, feliz, resolveu abandonar a cidade, regressando para a sua ladeia com os irmãos. E na aldeia voltou à vida primitiva. O herói, porém sentia muita saudade das aventuras vividas e de Ci, sua amada, que agora era uma estrela. Todos os dias, deitado na rede, contava essas aventuras para um papagaio.
Um dia, Macunaíma acordou insatisfeito: não achava mais graça naquela terra. Pensou se deveria ir para a ilha de Marajó ou ir morar no céu, perto de Ci. Mas isso já está no fim da história que um papagaio contou para o escritor Mário de Andrade e ele registrou em seu livro. Vale à pena ler o livro e ver o fim e a história toda.
(Samir Meserani)
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